quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Realidade e sociedade: Duas grávidas em uma só


-Meninas! Estão sabendo?
-Sabendo o que?
-A Elisa tá grávida!
-A Elisa? Não creio! Nossa, jurei que ela não era dessas.
-Eu também pensei isso, mas quando eu ouvi ela e a Clara conversando vi que ela é uma vadia.
-O que elas falaram?
-Eu só ouvi um pouco... Ela disse assim: "O problema é que meu filho não vai ter pai." aí a Clara disse: "Ah é verdade né? Você não sabe quem é e nem tem como saber." aí a Elisa disse: "Não..." aí ela começou a chorar e eu saí.
-Ai meu Deus! Então ela é uma vadia mesmo.
-Com certeza. Aposto que ela fez esse filho quando estava numa festa, completamente bêbada e deu pra um qualquer.
-Gente, para tudo! Foi assim que a Márcia ficou grávida, lembram?
-Verdade... Ai credo, nessa cidade só tem vadia.
-Tá, mas olha só, eu contei pra vocês, mas vocês não podem contar pra ninguém, tá?
-Claro amiga, segredo!
Uma semana depois a cidade toda estava sabendo que Elisa estava grávida, que havia bebido muito numa festa e que o pai era um qualquer desconhecido.
Quando a história chegou aos ouvidos de Elisa, ela chorou e sofreu, afinal, a história não foi bem assim. Aqui está a conversa toda de Elisa e a amiga Clara:
-Clara... Eu to grávida. (choro) Aquele infeliz que me estuprou me engravidou mesmo...
-Amiga, você foi estuprada, tem direito a abortar.
-Não quero, não vou tirar meu filho de mim, não mesmo.
-Tudo bem, minha flor. Já contou pro seus pais?
-Já.
-E eles?
-Graças a Deus entenderam e aceitaram a minha decisão. O problema é que meu filho não vai ter pai.
-Ah é verdade né? Você não sabe quem é e nem tem como saber.
-Não... (choro desesperado)
-Amiga, calma, eu to aqui, tá? Se você precisar, já sabe, conta comigo. Agora deixa eu te levar pra casa.
Bom, deu pra entender que a nossa sociedade não confunde as coisas, mas sim, cria histórias que deem mais ibope. Quer um exemplo? Chamar a garota de coitada por ter sido estuprada não é tão legal quanto citar uma lista de xingamentos por ela ter engravidado de alguém.

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