Márcia era casada, mãe de dois filhos, tinha 45 anos e era uma
advogada de sucesso. Todos juravam que ela era uma mulher completamente feliz,
já que ganhava um salário mensal um tanto alto, mas ela não concordava com o
que as pessoas viam dela. Seu sonho era ser professora, mas o medo da rejeição,
a falta de atenção do governo e outros problemas fizeram com que ela desistisse
do sonho e optasse por uma carreira mais sólida e que já havia um caminho
traçado pelo seu marido.
Guilherme, seu
filho mais novo, estava na sétima série e estava com muitas dificuldades com a
matéria de história.
-Mãe, é muita
data, é muito nome, é muito tudo.
-Tá filho, vamos
começar por coisas que aconteceram há muito tempo...
Ela tinha
didática, ensinava muito bem e conseguiu fazer com que o seu filho tirasse boas
notas nessa matéria. Rafael, seu filho mais velho percebeu aquele talento e a
incentivou a fazer uma segunda faculdade:
-Mãe, a senhora já
tem filhos que não são mais crianças. Você e o pai têm dinheiro e você tem
tempo, então por que não tentar?
-Ai filho, será
que o seu pai vai aceitar?
-Mãe, faça-me o
favor. O pai é o cara que mais te apoia em todas as suas decisões. Relaxa e
segue o teu sonho.
Márcia conversou
com o marido e ficou tudo certo: prestou vestibular, passou, fez magistério e
se formou. Depois se especializou na matéria de história, que tanto gostava.
Começou então a
dar aula em uma escola com 50 anos de idade e, para a surpresa da direção da
escola, os alunos amavam-na e estavam tirando ótimas notas.
Porém, algo estava
deixando-a incomodada: o desrespeito com o professor por parte de alunos e
pais, além de estar enfurecida com o salário baixíssimo dos professores. Tudo
bem, ela amava a profissão, mas merecia ganhar créditos, afinal, ela passava
quatro horas diárias com os alunos e mesmo assim os pais insultavam-na e o
governo insistia em investir na tão esperada Copa.
Cansada destes
problemas, ela, junto com seus alunos, formou uma grande campanha chamando a
atenção das pessoas pelas redes sociais. O projeto chamou a atenção, mas não o
suficiente. Para os pais, era perda de tempo ler uma simples frase e refletirem
sobre ela. Era inútil para a população participar de algo que fazia parte do
futuro dos jovens que um dia se tornariam cidadãos.
Márcia não se abateu,
muito pelo contrário, ficou feliz pelos seus alunos que entenderam a mensagem.
Talvez, um dia, um de seus alunos também não se abateria e lutaria pelos
direitos não dos professores, mas sim dos frequentadores das escolas, afinal, o
que é uma pessoa bem sucedida sem um estudo aprofundado sobre algum assunto?
Mas o que é um estudo aprofundado sem um ensino básico? O que é um ensino
básico sem a escola? O que é a escola sem um professor? O que é um professor
sem dignidade? Fica a pergunta.
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